Pensar em um carro para os próximos anos está ficando uma tarefa cada vez mais intrincada para designers, engenheiros e o pessoal de marketing das fabricantes. Acabou a era onde só exisitiam sedãs, hatches e station wagons e caberia ao consumidor escolher aquele que melhor se adequava às suas necessidades. Em um mundo cada vez mais competitivo, e ainda com a avalanche das marcas chinesas batendo à porta, agora são as principais fabricantes globais que partem para a difícil tarefa de se adaptar aos desejos dos mais variados clientes. Como se não bastasse, esse mesmo produto ainda tem que servir para diversos países.
O trabalho é tão complexo que encaixar esses produtos inovadores nos segmentos que estamos acostumados a lidar ficou tão difícil que eles passaram a ser agrupados em uma mesma categoria: os crossovers. A palavra, que em bom português significa cruzamento, reflete a nova onda automotiva do século XXI, a de mesclar carrocerias para ganhar em versatilidade, robustez, posição de dirigir, dentre outras características.
Para entender tudo isso, basta olhar o recém-lançado 3008 (R$ 79.900 na versão Allure ou R$ 87.900 na top de linha avaliada Griffe). Segundo a Peugeot, sua proposta é conciliar o espaço interno e a modularidade de um monovolume, com a dirigibilidade de um hatch e a robustez de um SUV tudo em uma única embalagem.
No Brasil, o 3008 desembarca proveniente da França com uma boa bagagem. Ele traz como principais itens de série oito airbags, ESP, Head Up Display, freio de estacionamento elétrico, Hill Assist e rodas aro 17”. O conjunto mecânico, comum às versões Allure e Griffe (que agrega, dentre outros equipamentos, teto solar panorâmico, retrovisor rebatível eletricamente e bancos em couro com aquecimento) fica a cargo do motor 1.6 turbo e o câmbio automático sequencial de 6 marchas.
Com essa dupla, o 3008 foi o mais rápido e econômico dos três. Além da racionalidade do downsizing do propulsor, o que torna o 1.6 ainda mais eficiente é o fato da maior parte dos periféricos como bomba de óleo, válvula termostática, turbina (que trabalha com 1 bar de pressão) e até mesmo o conversor de torque serem pilotados, ou seja, gerenciados pelo módulo da injeção eletrônica para atuarem sob demanda, o que evita desperdício da energia gerada pelo motor.
Tudo bem que o CR-V (R$ 85.700) chegou na pista com a banca de ter vencido nosso Superteste, mas fica difícil justificar sua proximidade de preço com o 3008. Não que o Honda não tenha qualidades, pelo contrário. Ele pode ser considerado o Corolla dos utilitários esportivos. Seu rodar suave e confortável, a cabine silenciosa e o amplo espaço interno explicam porque ele tem sido a escolha, em média, de 1 500 consumidores a cada mês. O problema é que o CR-V 4x2 não oferece, nem como opcional, teto solar, bancos em couro, ESP, sistema de partida sem chave, e por aí vai. Diante de concorrentes mais modernos, o Honda precisa se equipar mais. Mesmo assim, a caixa automática de 5 velocidades do CR-V ajuda muito a obter o melhor desempenho extraído do 2.0 16V de 150 cv atingidos a 6 200 rpm que a Honda coloca no seu representante.
Situação bem parecida ocorre a bordo do Kia Sportage (R$ 87.900). No dia a dia parece que os 166 cv produzidos também por um propulsor 2.0 16V parecem pouca coisa para os 1 500 kg do modelo com tração 4x2. Assim como ocorre no CR-V, no Sportage é o esperto câmbio de 6 marchas que, com suas constantes reduções no momento certo, ajudam a conferir agilidade ao Kia. Na pista, graças aos 24,4 mkgf de torque, o 3008 disparou nas acelerações e retomadas, seguido pelo Honda e o Kia, que acelerou de 0 a 100 km/h em 12s5.
Mas as semelhanças entre CR-V e Sportage vão além das suas competentes transmissões. O Kia também não possui uma relação “custo/equipamentos” favorável. Na opção 4x2 automática ele custa R$ 87 900 e traz apenas rodas de liga leve aro 16”, freios ABS e sensor de estacionamento traseiro. O modelo como o das fotos já é bem mais recheado e conta com teto solar panorâmico (sendo que a primeira seção pode abrir, enquanto o do 3008 é fixo), abertura das portas e partida sem chave, acabamento em couro, ESP e rodas aro 18”.
O problema é que o preço dele no catálogo P.395 salta para R$ 97 900, ou R$ 11 000 acima do que a Peugeot cobra pelo 3008 Griffe. Tido como o mais “puro” utilitário esportivo da turma, é difícil achar quem critique o design do novo Sportage assinado por Peter Schreyer, uma pena que não podemos dizer o mesmo da suspensão. Em curvas mais fechadas, a bela carroceria de 4,44 m do Kia inclina acima do que seria confortável. O CR-V, nesse ponto, é mais firme e a absorção de irregularidades do piso é feita de forma eficiente.
O 3008 conta com um recurso interessante para controlar a rolagem da carroceria e melhorar a dirigibilidade, trata-se do Dynamic Rolling Control. O sistema hidráulico instalado entre as rodas traseiras atua compensando a inclinação do veículo. A solução é eficaz, mas não é possível substituir somente um dos amortecedores traseiros sem trocar todo o conjunto, o que pode tornar a manutenção mais cara.
Com uma boa estratégia, ao oferecer um carro moderno com proposta interessante, a Peugeot introduz uma alternativa tentadora no mercado. Mesmo com os problemas registrados (ver box), o 3008 é a melhor escolha entre Sportage e CR-V, que pecam pelo custo elevado. Assim como na floresta, o leão mostrou que também manda por aqui.
Problemas na pista com o 3008
Como é padrão com todos os carros automáticos avaliado pela Carro, o teste de aceleração do Peugeot 3008 foi feito com o veículo parado na pista e o câmbio em Drive no modo Sport (quando disponível). A partir daí, aceleramos até 2 500 rpm, soltando o freio na hora da arrancada. Entretanto, ainda na primeira passagem do teste, a junta homocinética se rompeu (como você pode observar na foto à esquerda), impedindo a medição inicial. A fabricante prontamente nos enviou outra unidade do veículo, a qual cumpriu as provas sem nenhuma ocorrência. Consultada pela redação, a fabricante respondeu que “a quebra de uma transmissão ao nível da ponta do semieixo é um evento raro. Não temos conhecimento de um caso equivalente inclusive em nossos testes, que são realizados em condições extremas. Assim, analisaremos a peça para podermos chegar a um diagnóstico conclusivo do caso”. Após algumas semanas a Peugeot retornou nossa solicitação informando que não conseguiu chegar a um laudo conclusivo, pois houve perda de material no transporte do carro.
Nossa Conclusão
1º - Peugeot 3008
Mesmo com o problema envolvendo a junta homocinética, não podemos deixar isso afetar a avaliação do carro como um conjunto. Nesse ponto, a Peugeot caprichou ao elaborar um produto que alia modernidade e tecnologia em uma embalagem bem racional, com bom espaço interno, praticidade e conforto. O propulsor 1.6 turbo, com destaque para o torque de 24,4 mkgf, é um atributo de destaque deste crossover. Com ele, o 3008 foi rápido nas acelerações e retomadas e também impressionou pelo baixo consumo médio com gasolina.
2º- Kia Sportage
É difícil achar quem critique o visual da nova geração do Kia Sportage, que contribui para conferir ainda mais robustez à este SUV. Porém, beleza não é tudo nesta vida. Por mais que o eficiente e rápido câmbio de 6 marchas trabalhe muito bem, faltou vigor ao desempenho do Sportage. A suspensão, principalmente na pista de testes quando efetuamos algumas curvas fechadas em velocidades elevadas, deixou a carroceria oscilar lateralmente, além do que seria, por assim dizer, confortável. Outro ponto que pesou contra o Kia foi o preço. É possível deixá-lo tão equipado como o 3008, mas ele fica R$ 11 000 mais caro do que o Peugeot.
3º - Honda CR-V
O CR-V não é uma referência em luxo ou requinte, mas é um carro preciso. Com rodar estável, cabine silenciosa e muito espaço interno ele cativa facilmente quem convive com ele. O problema surge quando analisamos o mercado e constatamos que ele é caro demais pelo que oferece de série. Entre concorrentes mais modernos e equipados, ele precisa se atualizar.
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